domingo, 16 de dezembro de 2012

Será que meu filho é homossexual?


Será que meu filho é homossexual?


Ele tem apenas seis anos mas já chama a atenção pelo jeito delicado, às vezes mais feminino que o de muitas meninas da sua idade. Já ela chegou a ser barrada na porta do banheiro feminino por se parecer mais com um menino. Os amiguinhos implicam, a escola tenta driblar a discriminação e os pais fingem que não percebem, mas, no fundo, já repararam que há algo diferente. O que fazer?

  "O primeiro passo é investigar a causa desse comportamento, mas jamais reprimi-lo. Lembre-se, seu filho não está fazendo nada de errado", orienta a psicóloga Vânia Teles sobre como lidar com um filho que apresenta, desde novo, trejeitos do sexo oposto. Difícil é, para  muitos, lidar com esta situação, já que fica a dúvida se o filho será ou não homossexual. E essa certeza, de fato, ninguém tem. Até porque comportamento e sexualidade estão em distintos patamares, que podem se cruzar ou não.

  "Há três áreas a se considerar na formação da sexualidade de uma pessoa; a biológica, a psicológica e a comportamental. Esse jeito afeminado ou masculinizado está ligado à formação da identidade de gênero, o que é diferente da orientação sexual", explica o sexólogo e médico psiquiatra Ronaldo Pamplona.

  Ele destaca estudos recentes que apontam a homossexualidade ligada ao caminho que o ferormônio, substância que desperta o desejo sexual, percorre no organismo. Em alguns casos, ela vai parar justamente na região que desperta o interesse no mesmo sexo. O detalhe é que não temos controle sobre esse destino e, portanto, não podemos evitá-lo. "Alguns pais dão atividades viris ao filho para demovê-lo desse comportamento. Até consegue, mas biologicamente, não há o que se fazer", destaca.

  É com essa consciência que traumas decorrentes de censuras, castigos e surras em vão podem ser evitados. Esta repressão à criança, inclusive, pode ter outra conseqüência. Ao perceber que não está agradando, a criança começa a omitir seu jeito de ser, o que pode criar traumas ainda piores.

  Cercar o assunto é missão complexa. Por isso, a terapia é um caminho eficaz para se detectar e tratar, se necessário, um comportamento como este. "A partir dos 8 anos é recomendável procurar um especialista. Muitas vezes também para os pais que precisam até mais que os filhos. É preciso saber conviver com eles do jeito que são e, se esse for um indício de homossexualismo, despir-se de preconceitos e amá-lo do mesmo jeito", aconselha a psicóloga Vânia Teles.

Papel da escola é muito importante

Não há como descartar a influência escolar e dos colegas na formação do caráter e personalidade de uma criança. E neste pacote está a sexualidade que, naturalmente, também sofre interferências.

  No entanto, vai além da alçada da escola, o papel de identificar (leia-se taxar) ou mesmo resolver esse tipo de comportamento que pode ter razões e conseqüências complexas ou não retratar nada mais que um traço provisório de conduta.

  "Algumas vezes faz-se um alarde em cima de uma situação normal entre crianças. O fato, por exemplo, de algumas brincarem com elementos típicos do sexo oposto, é uma experiência normal e até benéfica. A criança se coloca em outro papel e aprende com isso", afirma a coordenadora pedagógica Olga Weiler.

  Segundo ela, seria inapropriado e até leviano classificar uma situação, uma criança ou uma condição. O melhor é orientar os pais na busca de um especialista e até mesmo avaliar o discurso quando as críticas vêm de colegas. "Geralmente eles repetem o discurso dos adultos, o que deve ser esclarecido e explicado".

  Para a fundadora do Grupo de Apoio a Pais de Homossexuais, Edith Modesto, é dever dos pais saber como o assunto é tratado na escola. "Eles devem ir até lá e saber se os profissionais estão capacitados para lidar com o assunto, se orientam para o respeito à diversidade. E caso isso não aconteça, procurar outra escola", orienta. l


Como se forma a sexualidade
 Antes de qualquer opinião precipitada, é bom saber como se forma a sexualidade de uma criança e a partir de que idade a criança começa a entender o que se passa com o próprio corpo e quais são os traços relativos à sexualidade que ela pode apresentar.

Até os 3 anos a criança não diferencia meninos de meninas, o comportamento é unissex. É só a partir daí que ela vai saber que é um menino ou uma menina

Até os 12 anos a sexualidade é generalizada e não localizada nos órgãos sexuais. É por volta desta idade que os hormônios se traduzem fisicamente e os conflitos com a sexualidade, se preexistentes, começam a transparecer

Transexuais e travestis em alguns casos uma condição intersexual (como o hermafroditismo) pode dar ao menino a idéia de que é uma menina e à menina a idéia de que é um menino. No caso do travesti, ele apenas quer se vestir como menina e ela, como um menino. Ambos os casos não estão determinadamente ligados ao homossexualismo

Da família não há como negar situações de influência de uma criação radicalmente feminina, uma má impressão da figura paterna ou materna, que cria uma rejeição ao sexo oposto. Mas, lembre-se de uma coisa muito importante, isso não definirá a orientação sexual.

Os pais sempre sabem?
Durante toda a infância e adolescência, a escritora Edith Modesto não percebeu sequer um indício de que seu filho fosse homossexual. "Ele não tinha, e nem tem, nenhum trejeito até hoje", conta ela, que fundou o Grupo de Apoio a Pais de Homossexuais após descobrir, entre muito drama, que o filho era gay.

  A reação de Edith foi a de muitas mães. "Não estamos preparadas para receber essa notícia", reflete. Mas, após dez anos superando obstáculos, ela fala com propriedade sobre o assunto. A começar pelo principal erro das mães: o de querer mudar seus filhos.

  "Não é culpa nossa, não fizemos nada de errado. Ninguém vira gay porque foi mimado. Não se ensina ninguém a ser gay, é algo espontâneo do ser humano. As mães se culpam ou pensam que vão consertar o filho, mas não há nada o que se fazer se esse for mesmo um indício de que ele será homossexual", afirma.

  No dia 18, Edith lançou mais um livro: "Mãe sempre sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais". E à pergunta, ela já adianta. "As mães não são bobas, elas sabem, sim, que há algo diferente. Mas, o problema é não querer encarar e ajudar o filho. É nessa hora que ele precisa de você. Antes de achar que um jeito diferente é sinal de homossexualidade, ela deve ajudá-lo a se fortalecer para o que ele irá enfrentar sendo gay ou não". Quando o pai se mostra radical, o filho se esconde. E, para não desagradar, a saída é fingir um personagem. O resultado disso são algumas feridas na alma difíceis de se apagar", alerta.

Atos simples, consequências complexas   
Hora de dormir. O casal se separa dos filhos até a hora de um deles, aos prantos, pleitear, com sucesso, um espaço na cama dos pais. Cena mais que natural, não? Principalmente quando a figura do pai e da mãe não são presentes.

  Para a hebiatra com formação em psicanálise, Ildes Milbratz, o que pode parecer uma concessão inocente não acrescenta nada de benéfico às crianças. Ao contrário. "A criança precisa ganhar sua individualidade e esse ato só atrasa esse processo, além de afetar a pulsão libidinal, esse desejo que no início da vida se concentra na mãe e depois se direciona ao sexo oposto, do filho para a mãe e da filha ao pai", explica a especialista.

  Ildes chama, inclusive, a atenção para outra cena que também nos parece natural, mas que pode acarretar problemas. "A criança não tem maturidade suficiente para lidar com a genitalha do adulto. Por isso, o fato de ficar nu na frente dos filhos é, no fundo, uma violência imperceptível contra a criança", diz.

  Quer mais? Até a amamentação, alimento essencial aos bebês, pode, em excesso, interferir na libido. "Já vi casos em que, pasme, o filho mamou até os 17 anos. É claro que se trata de um caso raro,  mas quando a amamentação se estende por muitos anos, certamente pode influenciar sim", alerta. l

  Segundo especialistas, não há problema em brincar com brinquedos do sexo oposto, mas atos simples como deixar o filho dormir no meio dos pais podem influenciar na libido.

A GAZETA

Letícia Nóbrega 

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