Taxista Raphael, que levou Suzana ao colégio de João Felipe, conta que durante trajeto até o hotel, onde a manicure mataria o menino, ela foi brincando de fazer cócegas.
Um menino de seis anos é tirado da escola por uma amiga da família e logo depois assassinado. A polícia investiga se a assassina também pretendia matar a mãe do menino.
“Eu quis agilizar as coisas, entendeu? Na maior das intenções. Na boa intenção”, declara a funcionária do colégio Nossa Senhora Medianeira.
(Veja vídeo: Imagens mostram momento em que manicure chega com criança a hotel)
A funcionária que aparece no vídeo é a que autorizou o menino João Felipe a sair mais cedo do colégio Nossa Senhora Medianeira, em Barra do Piraí, estado do Rio.
A funcionária, que não quer ser identificada, recebeu um telefonema às 14h30.
Na verdade, a mulher era a manicure Suzana do Carmo de Oliveira. “A Suzana era amiga da família e sabia de toda a rotina da família, inclusive do colégio. Ela conseguiu quebrar a segurança alegando que o garoto estava lá por engano”, diz o delegado.
"Ele tem médico às 15 horas e eu vou mandar alguém ir aí buscar", diz a funcionária.
Duas horas depois do telefonema, Suzana mataria João Felipe.
“Eu nunca ia imaginar que iria acontecer isso”, declara a funcionária.
Quando ela ligou para o colégio, a cena do crime já estava escolhida: um quarto de um hotel no centro da cidade.
Depois de se registrar no hotel, Suzana saiu e pegou um táxi para ir ao colégio, que fica perto.
“Estava de cabelo escovado, estava maquiada, estava com uma bolsa bonita, de óculos escuro. Ela falou que ia pegar uma criança de nome João, que a criança ia passar a tarde com ela porque a mãe do João, que no caso seria colega dela, tinha compromisso na parte da tarde”, conta o taxista Raphael.
“O táxi está se aproximando da escola, ela pega o telefone celular dela e simula estar falando. O táxi para na porta da escola e ela vira para o taxista, fala assim: ‘Eu estou no telefone, pega ali o João Felipe para mim, ele já está aguardando’”, conta o delegado.
O taxista então buscou o menino. “Eu botei a mochila dele na frente, ele entrou pelo carona e cumprimentou ela, normal”, declara o taxista.
Suzana tinha conhecido a família há três anos. Fazia as unhas da mãe de João Felipe, de quem acabou ficando amiga. Por isso, o menino não estranhou a mudança na rotina.
“Ela pediu para ir para o hotel. E atrás, com ele brincando, com ele normal. Estava fazendo cosquinha na barriga dele, ele rindo com ela. Quando chegou no hotel, a única coisa que ela falou, quando ela desembarcou do carro, ela falou para ele: ‘Daqui a pouco sua mãe vem te buscar’. Mais nada. Mas ele não fez pergunta nenhuma”, conta o taxista.
Imagens mostram o momento em que Suzana chega com a criança. Segundo a polícia, dentro do quarto ela usou uma toalha para asfixiar João Felipe. Uma hora e meia depois de ter entrado com ele no hotel, ela sai com o corpo no colo. E pega um táxi.
“Eu cheguei na porta do hotel. Ela já estava esperando na calçada, junto com o recepcionista. E ela com a criança no colo, deitada com pano meio que amarelado, todo tapado o garoto”, declara o taxista Eneas Marcolino.
O taxista Eneas deixou Suzana em casa, que fica numa vila no centro da cidade. Foi lá que ela colocou o corpo dentro de uma mala.
A mãe foi buscar o filho, como todos os dias, às 17h. Quando a funcionária viu a Aline no portão, ficou surpresa e quis saber por que ela tinha voltado, se a criança já tinha sido entregue. Muito assustada, a partir daí a mãe deu o alerta. A família, o colégio e praticamente toda a cidade começaram a busca pela criança.
A notícia chegou aos mesmos motoristas que levaram Suzana e o menino. Eneas deu o endereço dela à Polícia Militar.
Raphael, que tinha os números de Suzana no celular, conseguiu marcar um encontro com a manicure.
“Ela estava em pé. Ela não queria entrar. Eu falei: entra aqui que a gente só vai conversar.Eela falou: ‘Tá bom, vou confiar em você’. Foi na hora que ela entrou, eu travei a porta e fui embora. Ela muito nervosa. 'Me solta, me solta, você está me levando para a polícia!' E tal”, conta o taxista Raphael.
Raphael entregou Suzana à polícia. E o corpo foi encontrado na casa dela.
“Eu não queria fazer isso com a criança. Eu ia dar um susto. Só que acabou, as coisas acabaram acontecendo desse jeito. Eu tinha os motivos. Eu já falei para eles o motivo que eu tinha”, declara Suzana.
Suzana não quis depor na delegacia. Mas informalmente deu várias versões para explicar o crime.
“Uma das versões apresentadas por ela é que o marido da Aline estaria dando em cima dela, e ela não queria nada com ele. Depois ela conta uma outra versão, de um relacionamento antigo, de cerca de um ano e meio”, diz o delegado.
O pai de João Felipe deve depoimento nesta semana. Já Aline Bichara contou à polícia que vinha sendo procurada por Suzana para que viajassem juntas, o que não aconteceu.
“Então ela foi para o plano B. Então ela investiu contra a criança. Só se mata uma criança ou por vingança, por qualquer tipo de ira, né?”, diz o delegado.
Coincidências ligam este crime a dois outros. Para matar Taninha em 1960, Neyde Maria Lopes fingiu ser a mãe da criança para pedir que a menina saísse mais cedo da escola.
Neyde, que ficou conhecida como Fera da Penha, bairro do Rio onde aconteceu o caso, tinha a mesma idade de Suzana quando cometeu o crime: 22 anos.
Em 2011, Luciene Reis Santana matou uma menina de seis anos, mesma idade de João Felipe. O crime também foi cometido num quarto de hotel, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
As duas mulheres tinham sido amantes dos pais das vítimas.
João Felipe tinha entrado no colégio Medianeira em fevereiro. E junto com outras 27 crianças cursava o primeiro ano, estava no início da alfabetização. Segundo os professores, era uma criança alegre e inteligente, era um dos primeiros a terminar as tarefas em sala de aula. Agora, o desafio dos funcionários e dos quase 600 alunos do colégio é tentar retomar a rotina a partir de amanhã.
“Tomaram-se algumas medidas. Houve instalação de monitoramento de câmeras, na entrada, externa, interna, nos corredores. Vai ser feito um trabalho com os pais, vai ser feito uma reunião com os pais, assim na retomada das aulas, na segunda-feira”, declara a advogada da escola, Tânia Maria.
Os alunos terão ajuda de um psicólogo e de um padre. E a turma de João Felipe vai estudar numa nova sala.
“Isso, de certa forma, que sirva de exemplo para criar normas rígidas de conferência. Ah, a mãe ligou... Ah, não pede telefone a quem ligou, não. Vai ligar para os telefones que tiver constando na ficha. Se não atender, nada feito”, diz o delegado.
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