Uma legião que cresceu num ritmo de mais de 850 novos membros por semana e que já deve ter passado da marca de um milhão no Estado. Formada, em sua maioria, por mulheres jovens, com o ensino médio completo e renda de cerca de R$ 1.300 mensais, esse grupo é consumidor voraz de produtos como CDs e livros, além de ser apaixonado por música.
Quem pensou nos evangélicos à medida que a descrição foi feita, acertou. O perfil dos fiéis que fazem do Estado o segundo em percentual de crentes no país foi apontado por uma pesquisa realizada pela empresa de pesquisa Merccato e encomendada pela Revista Comunhão.
Os dados mostram que eles não são mais um grupo em busca de qualquer religião que dê sentido às suas vidas, mas que consolidou hábitos ligados à doutrina seguida e um padrão de consumo característico.
Já as estatísticas que apontam o crescimento acelerado dessa população foram analisados também pelo professor de Estatística da Ufes, Ailton Pedreira da Silva. Ele avaliou a taxa de crescimento exponencial (TCE) dos evangélicos, entre 1991 e 2000, e projetou seu crescimento para os anos seguintes. Em nove anos mais de 40 mil pessoas se converteram no Estado. Se a taxa de crescimento se mantiver em 7%, o Estado se tornará o primeiro do país em proporção de evangélicos.
Além de trabalhar e estudar, a maioria dos evangélicos pesquisados pela Mercatto vai à igreja pelo menos três vezes por semana e lê a Bíblia por quase uma hora todos os dias.
Apesar de não se dizerem recém-convertidos, eles afirmam que foram para a igreja a convite de amigos, numa fase em que a maioria dos jovens está a procura de respostas: a adolescência.
A maioria dos evangélicos da região metropolitana também não está ligada às igrejas tradicionais, mas às pentecostais. As que mais possuem adeptos são: Assembléia de Deus e Maranata.
Para o diretor da empresa de pesquisa, Anselmo Hudson Siqueira, os dados mostram um público evangélico jovem que cresceu na igreja e agora já forma família. "Daqui por diante, ao contrário do que aconteceu, o crescimento não vai se dar só pela conversão, mas principalmente pela consolidação das famílias evangélicas", afirmou.
Jovens buscam acolhida na igreja
"Minha mãe me levava à igreja desde pequena, mas na adolescência me afastei. Depois, duas amigas me chamaram para freqüentar a Batista. Foi lá que Jesus começou a fazer sua obra na minha vida. O que aconteceu comigo acontece com a maioria dos adolescentes. Nessa fase a gente não leva a sério o que os pais dizem, é mais influenciada pelos amigos". O depoimento da universitária Evelyn Camila da Silva Pinheiro, de 22 anos, retrata bem o perfil traçado pela pesquisa sobre os evangélicoscapixabas: jovens que buscam acolhida na religião, uma sensação de família e de pertencimento que não estão encontrando no mundo. Lá, eles não só fazem amigos, como se envolvem em diversas atividades.
Os evangélicos da Grande Vitória
1 - Perfil
A maioria é mulher (58,4%), jovem (30,25%) e tem o 2º grau completo
O contato com a igreja se deu, na maior parte dos casos, por meio de amigos: 48,6%. A maioria dos entrevistados disse, também, que começou a freqüentar a igreja cedo, com até 16 anos de idade
A maioria faz uso de computador (56,4%) e tem acesso à internet (50%)
Entre os que têm acesso, o computador é utilizado em casa (34,1%) e por mais de 8 horas por dia, em média
2 - Credo
A igreja que apresentou o maior percentual de adeptos entre os entrevistados foi a Assembléia de Deus, com 34,6%. Em segundo lugar está a Igreja Maranata com 16,7% e em terceiro a Igreja Batista (Convenção Batista Brasileira), com 8,7%
A maioria dos fiéis professa a mesma fé há algum tempo e não mudou de religião recentemente: 79,8%
Questionadas sobre o que mais gostam na igreja, a maioria das pessoas respondeu o louvor (50,9%), referindo-se à parte musical dos cultos
A maioria diz que freqüenta a igreja pelo menos três vezes por semana e lê a Bíblia 50 minutos por dia. Mais de 80%, porém, nunca leu a Bíblia inteira
O acolhimento é um ponto forte: a maioria já foi visitada pelo pastor da própria igreja ou por lideranças (83,7%). Mas a participação nas atividades rotineiras das igrejas é considerada média
A maioria, 72,6%, é dizimista
3 - Lazer
A maioria faz atividades em casa, nas horas de lazer (43,8%), e dedica mais de 4 horas para isso
A principal crítica em relação a espaços de lazer feita pelos evangélicos é em relação à falta de parques e praças (26,6%)
4 - Consumo
Os produtos evangélicos mais procurados são os CDs, que têm 25,7% de consumidores assíduos e que fazem pelo menos uma compra por mês; 19% compram de vez em quando
61,2% diz ler, em média, quatro livros evangélicos por ano
O Jesus Vida Verão é o evento evangélico mais lembrado entre os evangélicos da Grande Vitória
Fonte: Instituto Mercatto/Revista Comunhão
Música é o que mais agrada
É a música gospel, o louvor, o que mais agrada os evangélicos nas igrejas. O gosto por essa parte dos ritos, apontado por mais de 50% dos fiéis, faz com que eles comprem pelo menos um disco de um artista evangélico famoso por mês e leia, em média, quatro livros do segmento por ano.
Mas ao contrário do que acontece no mercado de música popular, eles não alimentam a pirataria. Quase metade dos evangélicosentrevistados compra os CDs preferidos em livrarias.
Na Grande Vitória, são os evangélicos de Vila Velha os que mais consomem discos de música gospel: 26,9% compra pelo menos um por mês e 17% compra mais de um.
Informações do grupo MK Music, que reúne várias mídias neste segmento, apontam que além de ser um forte consumidor, oevangélico capixaba também se vê representado entre os artistas. "O Espírito Santo é rico em talentos e também muito diversificado em estilos musicais. A banda Tempero do Mundo, é uma das que está preparando o próximo CD pela nossa gravadora", informou Alomara Andrade, coordenadora de Comunicação do grupo.
Número não surpreende pastores
O alto percentual de jovens entre os evangélicos da Grande Vitória, apontado pela pesquisa, não é novidade para pastores como Abílio Rodrigues, titular da Igreja Batista da Restauração e presidente da Associação de Pastores Evangélicos de Vitória. Para ele, o jovem se sente atraído quando as igrejas fogem do formalismo e investem na acolhida de novos membros.
"Às vezes, eles são atraídos por uma programação especial. Na nossa igreja, por exemplo, chamamos de rede jovem. Além disso, tem o desejo do jovem pelo diferente. Eles têm um vazio que querem preencher. Chegam e passam por uma experiência de transformação e, depois, essa transformação atinge a família".
Ele ressaltou ainda que a postura de alguns pastores também pode ser um fator de atração para jovens. "Há pastores que ministram sem formalismo. Às vezes até são mais maduros, mas falam a linguagem dos jovens. Não têm também aquele estereótipo do pastor", completou.
Na Igreja Batista da Restauração, onde é titular, o pastor aponta outro fator. "Jardim da Penha é um bairro de muita gente solitária. De jovens que vêm estudar e que buscam acolhimento, gente que os ouça, acaba descobrindo na igreja uma outra família".
Os números
Brasil. 21,9% se declararam evangélicos no país, segundo dados divulgados pelo IBGE. No Estado, esse índice foi de 24%
Crescimento. Feita no ano passado, uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que o número de evangélicos continua crescendo no Brasil, principalmente entre os mais jovens (de 15,5% para 17,6%)
Maior. O Espírito Santo, junto com Rondônia, é o Estado brasileiro com a maior porcentagem de evangélicos em relação à população total, com 28%, enquanto a média nacional é de 15,65%
Região Metropolitana. Na Grande Vitória, Vila Velha se destaca nas estatísticas, com mais de mil templos evangélicos e o maior número absoluto de fiéis do Estado. São aproximadamente 150 mil seguidores, o que corresponde a 37% da população
Eles também são maioria nos cursos de Teologia
O envolvimento de jovens em igrejas evangélicas não aparece só nas pesquisas. De acordo com o diretor da Faculdade Unida de Vitória, Wanderley Pereira, eles também são maioria entre os estudantes de Teologia da faculdade. "Em 2006 eram 110 alunos, e em 2008, são 600. Destes, são mais de 400 fazendo Teologia. Isso é surpreendente tendo em vista que a maioria hoje está atrás dos cursos da área tecnológica", afirmou. Além dos cursos formais nessa área, muitos também participam de encontros de formação oferecidos pelas próprias igrejas, uns para se tornarem pastores e pastoras, outros para dar aula nessa área ou ainda para conhecer melhor a própria fé.
As 10 maiores igrejas evangélicas
Assembléia de Deus: 34,69%
Maranata: 16,75%
Batista CBB: 8,75%
Deus é Amor: 5,5%
Adventista: 4,82%
Quadrangular: 4,50%
Universal do Reino de Deus: 3,75%
Batista Renovada: 3,27%
Presbiteriana: 2,06%
Testemunha de Jeová: 1,63%
Análise
"Com todos os problemas que as igrejas possam ter, elas ainda são consideradas um ambiente bom. Tranqüiliza os pais saber que os jovens estejam seguindo uma religião, mesmo que não seja a que eles freqüentam. Além disso, a maioria esmagadora das igrejas também cria programações específicas para os jovens, o que acaba sendo um atrativo. Vejo um lado positivo no crescimento do número de evangélicos em relação à esfera privada, ao fato de as pessoas estarem vivendo melhor e desta religiosidade ter feito bem às famílias. Mas também vejo um aspecto ruim, que é o fato de este crescimento ainda não ter refletido como deveria na sociedade. Como isso se reflete na atuação política, social das pessoas, como elas estão exercendo sua cidadania? Há o risco de haver um mar de evangélicos com uma polegada de profundidade. O novo testamento fala em reino de Deus e o que Jesus propõe é um reino com uma ética própria. Isso requer um passo a mais, saindo da esfera privada para outros espaços da sociedade".
Wanderley Pereira, Teólogo e diretor da Faculdade Unida de Vitória
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique a vontade para comentar,mas lembramos que não podemos aceitar ofensas gratuitas, palavrões e expressões que possam configurar crime, ou seja, comentários que ataquem a honra, a moral ou imputem crimes sem comprovação a quem quer que seja. Comentários racistas, homofóbicos e caluniosos felizmente não podemos publicar.