quarta-feira, 15 de maio de 2013

Pastores da Maranata faziam negócios com a própria igreja

Pastores da Maranata faziam negócios com a própria igreja 
Em cinco anos, advogado chegou a receber R$ 2,8 milhões ao servir à instituição

Pastores e membros da cúpula da Igreja Cristã Maranata, descumprindo o estatuto da própria instituição, estabeleceram relação de negócios com a igreja, por meio de suas empresas, segundo revela o requerimento de ação penal pública encaminhado pelo Ministério Público Estadual à Justiça. Um dos advogados e pastor da Maranata teria recebido da igreja, em cinco anos, um total de R$ 2.895.319,18.

No documento, assinado por nove promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), 19 pessoas são denunciadas por estelionato, formação de quadrilha, apropriação indébita e duplicata simulada, conforme A GAZETA divulgou ontem, com exclusividade. 
No estatuto anterior ao atual – este datado de 10 de dezembro de 2011 –, já havia restrição para que membros da diretoria mantivessem serviços e negócios comerciais com a entidade. O atual deixa isso bem claro, ressaltando o fato de que na igreja tudo deve ser feito em caráter de voluntariado.

Mas não é isso o que se vê na denúncia. Numa relação de membros da Maranata cujas empresas receberam valores do Presbitério, há pelo menos cinco membros da antiga diretoria. As transações comerciais das empresas dessas pessoas com a instituição totalizam, segundo o MP, R$ 915,9 mil. Mas a lista, com 23 nomes, indica uma movimentação de R$ 24,8 milhões, envolvendo transações comerciais de empresas de propriedade de outros pastores, diáconos e obreiros.


Comércio de papéis e de soluções tecnológicas, serviços de transporte, saúde, seguros, engenharia e cursos, além de serviços advocatícios, integram o rol de negócios e serviços. No período investigado, que começa em 2008, promotores afirmam ter constatado uso do dinheiro da igreja, proveniente do dízimo dos fiéis, em benefício da cúpula dirigente. 


Para a promotoria, agia na Maranata “uma verdadeira organização criminosa”, tendo no “vértice da pirâmide do crime” o pastor fundador e atual presidente do Conselho Presbiteral da igreja, Gedelti Gueiros. 

Os denunciados, segundo os promotores, “obtiveram vantagem indevida valendo-se de artifícios fraudulentos – ora utilizando-se de empresas já constituídas, ora mediante constituição de empresas simuladas – visando a justificar emissão de notas fiscais superfaturadas para possibilitar a saída de dinheiro do Presbitério”.

Defesa: “Agindo serenamente”
A defesa de Antônio Ângelo Pereira dos Santos – ex-vice presidente do presbitério da Maranata – e de Leonardo Alvarenga – que atuava como contador da igreja – afirmou que está “agindo serenamente” diante da denúncia apresentada pelo MPES.
Além de estarem entre os 19 denunciados, ambos estão entre os apontados como “responsáveis e negligentes” em relatório da própria igreja, em 2011.
“No início, apenas ambos eram acusados, mas estamos contentes porque a verdade está aparecendo. Sempre nos portamos de modo a colaborar com as investigações”, disse o advogado José Luiz Oliveira de Abreu.
Outro advogado que atua no caso, Rodrigo Horta confirmou que defende denunciados, mas se negou dizer quem são e não se pronunciou. A GAZETA tentou contato com outros advogados e denunciados, sem sucesso. (Elton Lyrio)
Interventor diz: contratos com 26 empresas foram suspensos
A denúncia do Ministério Público e a “preservação da idoneidade” da Igreja Cristã Maranata levaram o administrador judicial da instituição, Julio Cezar Costa, a publicar ontem uma instrução de serviço na qual suspende o pagamento de 26 empresas com contratos firmados com a igreja.
Da lista fazem parte as empresas Angular Administradora e Corretora de Seguros, Carlos de Souza Advogados, Carlos Itamar Coelho Pimenta, CM&T Clínica Médica e do Trabalho, Comércio, Serviços e Transportes Amorim, Cubus Engenharia, Daniel Amorim de Oliveira, J.E. Scabelo Comércio de Papéis, J.S. Pneus e Serviços, José Gomes Filho, Leonardo Meirelles de Alvarenga, M2 Soluções Tecnológicas, Meneghel Soluções Tecnológicas.
E ainda: Moraes e Barcellos Advogados Associados, Paulo Pinto Cardoso Sobrinho, Peniel Atividades de Cobranças e Serviços de Construções, Petter Serralheria, Pharmalógica Farmácia de Manipulação, Pulso Corretora e Administradora de Seguros, S.O.S. 24 Horas Remoções, Urquisa Braga Neto, Vilamed Gastro Clínica, Voyager Viagens e Turismo, Wellington Neves da Silva, WW Cursos e Treinamentos e Zborlini Prestação de Serviços.
Das 26 empresas, 25 são citadas na denúncia do MP Estadual. O interventor diz que já havia suspendido contratos de cinco empresas em 11 de abril deste ano, com base numa instrução de serviço que veda contratação de empresas e particulares, além de operações de compra que não atendam ao estatuto da Maranata.
Dissidente afirma que ainda há fatos a ser investigados
Dissidente da Igreja Cristã Maranata desde 2009 e “líder” de um grupo de pessoas que apresentaram denúncias em vários órgãos para pedir a apuração do desvio do dízimo, o advogado Leonardo Lamego Schuler disse ontem que “o que se busca é que se tire o mal de dentro daquele lugar que sempre foi bom”.
Para Schuler, “era absolutamente previsível” o pedido de instauração de ação penal pública incondicionada, acompanhada de denúncias de 19 pessoas, que foi apresentada à Justiça pelo Ministério Público Estadual e que aguarda agora decisão do juiz da 8ª Vara Criminal de Vitória.
“As provas são óbvias”, diz Schuler, que afirma ter sido, inicialmente, contratado gratuitamente para representar um grupo de cerca de 120 pessoas, insatisfeito com o que acontecia na Maranata. Denúncias dessas pessoas, inicialmente, foram levadas à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.
Para o advogado, a Maranata “sempre foi exemplo de dedicação e organização”. E ele faz questão de frisar: “Nossa batalha não é contra a Maranata, mas contra as pessoas que tomaram posse daquele lugar, que sequestraram a nossa fé e fizeram muito mal às nossas famílias”.
Firme na decisão de “buscar a apuração da verdade, doa a quem doer”, Schuler diz que ainda há fatos a serem investigados em relação ao grupo apontado como responsável por desvios de recursos na igreja. “Como advogado, sempre disse que não deveríamos denunciar sem ter provas”, argumenta ele.

CLÁUDIA FELIZ | Fonte: A Gazeta

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