domingo, 22 de julho de 2012

Padre Chrystian Shankar: "Felicidade se constrói. Não é seu destino, mas sua viagem. Temos que ser felizes com o que somos"

"Felicidade se constrói. Não é seu destino, mas sua viagem. Temos que ser felizes com o que somos" Padre da cidade mineira de Divinópolis, Chrystian Shankar usa ferramentas modernas, entre elas a internet, para evangelizar. Uma de suas pregações, sobre relacionamento, fez sucesso na internet

Em um mês, ele foi capaz de gerar no YouTube, com o vídeo "10 conselhos para quem deseja arrumar alguém", mais de 500 mil acessos. Não há dúvidas: o padre católico Chrystian Shankar é um sucesso. Para ouvir suas homilias, aliando fé e vida, em sua paróquia, na cidade mineira de Divinópolis, reúnem-se 10 mil pessoas, a maioria jovens, atraídas pela forma descontraída como o padre, de 36 anos, prega o Evangelho. Mas foi parte da pregação para um grupo de jovens, em que falou sobre relacionamento, que o tornou conhecido nacionalmente.
foto: Divulgação
O senhor conquistou, num curto espaço de tempo, muita visibilidade. O que, na seu opinião, o fez obter esse destaque, com um apelo grande em meio aos jovens? 
Olha, não foi um caminho traçado por mim, ele veio acontecendo. Sou assim, o meu jeito de padre é assim. Não faço teatro. Gosto de aproveitar a vida e costumo dizer na minha paróquia que, não sendo pecado e não fazendo mal para os outros, me chama que eu faço. (risos)

Por exemplo...
No meu descanso, faço trilha de moto, vou à academia. Tenho um envolvimento muito bom com jovens. Mas o meu carro-chefe mesmo é a Missa da Família. Sabíamos que, mais cedo ou mais tarde, o pessoal iria prestar atenção em Minas por causa dessa missa, que acontece todas as quartas-feiras, às 19h30, e reúne, semanalmente, 10 mil fiéis.

Como comportar tanta gente?
É, não cabe todo mundo na igreja. Temos dois telões nas ruas, e no Centro de Evangelização que construímos, abaixo da igreja, cabem 3 mil fiéis. O que chama atenção aqui é a participação de jovens. Temos um local enorme para estacionamento de motos, mas não cabe, devido à juventude motorizada.

E é o que a igreja vem buscando: a renovação do seu rebanho, atração de pessoas mais jovens que possam transmitir sua mensagem.
O papa Bento XVI tem nos incentivado a promover uma nova evangelização. Manter aquilo que a igreja tem, que é dela, mas oferecer, para o mundo de hoje, com uma roupagem nova. Nesse sentido, passamos a realizar a Missa da Família, na nossa paróquia.

Quando começou?
Em 2009. Na primeira, tínhamos apenas 40 pessoas participando. Mas depois ela foi crescendo, os jovens começaram a chegar, e, a pedido deles mesmos, a missa chegou à internet. No início, de forma bem simples. Depois veio o Facebook... Até que eles tiveram a ideia – e foi aí que surgiu o projeto – de gravar os sermões em DVD. Nós compramos equipamentos, e as pessoas passaram a levar os DVDs para casa. Hoje, para cada Missa da Família são produzidos CDs e DVDs. Em cada pregação, chegamos a vender de 600 a 800 DVDs em Divinópolis.

O projeto é o Luz&Vida?
Sim, e ele ganhou uma dimensão maior por sugestão de um pessoal de São Paulo, que veio assistir à missa e nos orientou a buscar mais visibilidade na mídia. Foi criado um canal no YouTube, e as missas passaram a ser divulgadas.

Uma das suas pregações, sobre relacionamento amoroso, é justamente a que faz grande sucesso no YouTube.
Foi gravada num retiro de jovens, onde se falou muito de namoro. Perguntei a eles o que gostariam que eu falasse sobre o assunto. Pedi que escrevessem e dali retirei os dez conselhos que foram abordados na homilia, que "bombaram" na internet. Primeiro na nossa região e depois no país, por causa de uma divulgação no site da Globo.com. Todo mundo começou a ligar, a falar.

Qual é o seu diferencial como padre?
A linguagem. Porque sou padre como os outros, mas mais ligado à área da comunicação. Tenho um programa de rádio diário, programa de TV... Não estranho a filmagem durante a missa e tenho facilidade de oratória. Isso ajuda muito na comunicação.

O senhor é de uma família católica. Quando jovem, gostava de ir à missa?
Quando jovem, sentia na igreja uma carência de uma fala que me envolvesse. Ia à missa por obrigação. Ficava lá, voando. Quando senti a vocação ao sacerdócio, pensei: "Se um dia for padre, vou tentar falar aquilo que queria ter ouvido e não ouvi". Então peguei a linha mais direta, mais simples, de contar casos, brincar e assim passar a doutrina. Parece que deu certo. O pessoal gosta de escutar a Palavra nesses moldes.

E a igreja, como viu?
No início, se assustou muito, porque aqui não tínhamos missas de massa, só comunidades menores. A minha graça é que os dois bispos que eu tive – dom José Delvino, que me ordenou, e dom Tarcísio –, do jeito que o mundo está, com muitos se afastando da igreja, viram a iniciativa com bons olhos. Afinal, em pleno 2012, numa quarta-feira à noite, reunir numa missa 10 mil pessoas, 6 mil delas jovens, é quase um milagre.

O senhor é muito direto no que fala. Suas dicas de relacionamento partem do seu convívio com os jovens?
Também. Eu acredito muito na família e peguei essa área para o meu sacerdócio. Li, estudei muito sobre relacionamento familiar, há três anos prego em retiro para casais. O vídeo que está na internet, com dez conselhos para quem deseja arrumar alguém, é um pedaço de 13 minutos de uma pregação de 1h10.

O que senhor mais observa de falho na família hoje?
Todos fazemos escolhas buscando a felicidade. Mas vejo que a família se distanciou da Palavra de Deus e do ser família. O modo individualista, em que um quer ser mais do que o outro, em que se vale mais pelo que se tem, foi dominando as famílias. Cada um vive a sua vida, sem se preocupar com outro. Faltam diálogo, o sentar-se à mesa, o participar. É preciso que os pais sejam menos autoritários e mais amigos e que os filhos sejam menos rebeldes e mais ouvintes. Penso que o falta na família de hoje é oração e diálogo. Família que reza unida permanece unida. Coisa simples, que para muitos caiu de moda.

Qual é o perfil da região onde o senhor atua?
Divinópolis fica no Centro-Oeste mineiro. É um polo de moda com mais de 800 confecções. Aqui tem festa o ano inteiro atraindo jovens, faculdade, shopping, muita opção de diversão. Não dá para dizer: "Ah, o padre evangeliza mais facilmente porque a cidade não tem nada". O jovem quer uma resposta, mas muitas vezes procura resposta onde vai encontrar mais perguntas. Aí ele se perde.

Há muitas igreja evangélicas na região? Católicos migraram para elas?

Com certeza. Temos vários testemunhos de pessoas dando conta de que, por falta de uma fé mais viva, foram em busca de outras igreja. Já atendi aqui famílias inteiras que voltaram, alegando que antes a homilia e o modo de transmiti-la não respondiam às suas perguntas. Mas nosso trabalho não é apologético. A Missa da Família não existe para competir com os cultos protestantes. Foi apenas um modo que adotei – e o Espírito Santo inspirou a gente – para dar uma resposta ao jovem de hoje. Ele pode continuar namorando, se divertindo, saindo, mas tendo a parte religiosa junto. A gente não precisa largar Deus para ser feliz. Ao contrário.

Deus não é cafona.
Não, é moderníssimo. (risos)

O senhor pertence à Renovação Carismática Católica?
Não, mas tenho uma ligação forte, porque minha mãe é coordenadora da Renovação numa cidade próxima a Divinópolis. Durante a época do Seminário, trabalhei na região de Mariana, onde a Renovação é muito forte. E meu jeito de ser faz com que pensem que pertenço à RCC. Muitos carismas que ela tem não utilizo na missa. Mas a maioria dos eventos de massa de que participo é promovida pela Renovação.

Em que momento a igreja "cochilou", e por isso perdeu espaço?
Não acho que a igreja cochilou. Mas ela não é uma garotinha de 15 anos. Quando as igreja nascem, hoje, já surgem no contexto pós-moderno. Da década de 1980 para cá, o mundo mudou muito, e a igreja se assustou. Não sabia, no meio de tanta coisa, como propor uma evangelização nova com aqueles padrões antigos. Mas penso que, à medida que surgirem necessidades, do coração da igreja brotarão aqueles que têm um diferencial para levar uma palavra, como foi São Francisco de Assis, São Tomás de Aquino... Hoje, vemos na mídia um espaço para certos padres que têm facilidade de propor algo novo, com poder de renovar nossas vidas. Mas homilia precisa aliar fé e vida. Quando você pega o texto bíblico e joga para 2012, o pessoal aceita melhor o discurso.

E o senhor acha que isso implica estímulo à vocação sacerdotal? Porque não existem muitos padres hoje.
Influi, com certeza. Sacerdotes como padre Fábio de Mello, padre Reginaldo, que estão na mídia, despertam no coração de tantos jovens, que já têm a vocação, essa vontade de servir à igreja.

Nas suas pregações, o senhor aborda sucesso profissional, felicidade. O que diria para as pessoas que vivem nesta sociedade tão competitiva e estão sempre insatisfeitas?
É normal a pessoa buscar fazer um curso superior, ter um trabalho rentável, uma casa própria, um carro, uma conta no banco. Mas o que nós não podemos esquecer é qual é a opção fundamental, o que nos dá sentido para lutar, sentido para viver. Senão, a pessoa vai buscar a vida toda, vai conquistar tudo o que deseja, ou não, e no final verá que não viveu, e sim que passou pela vida. As pessoas precisam fazer uma opção por serem o que são, respeitando o outro na forma como ele é. Hoje, a maioria dos relacionamentos não dá certo porque muita gente busca no outro para ser. Quem não se ama não vai amar ninguém.

O que significa ser feliz?
O mundo de hoje, muitas vezes, busca felicidade naquilo que é prazer. Uma coisa é ser feliz, a outra é ter momentos de prazer. Felicidade, pra mim, é sucesso. Felicidade se constrói, é decisão. Não é seu destino, mas sua viagem. Temos que ser felizes com o que somos, aceitar o que vivemos e construir no presente um futuro melhor. Ser feliz é saber que Deus está do seu lado, é aceitar o outro do jeito que ele é, é aproveitar a vida com tudo o que ela nos oferece. Ser feliz é fazer o outro feliz e ser canal da graça da Deus, espalhando alegria e bênção por onde se passa.

Conselhos do padre para arrumar alguém
Livre-se do ditado "Namorado e namorada não se arruma na noite"

Procure nos lugares certos
"... Tem muito relacionamento que naquela noite quente você fala: ‘Achei uma joia’. Vai passando o tempo e era uma bijuteria das brabas".
Quem fica com todo mundo acaba ficando sem ninguém
Cuidado com a maneira como você se veste
Evite sair só com pessoas encalhadas
"... Tem lugar que você sai, vê a turminha das encalhadas. Ali, homem não chega não. Se quer ter alguém, procure arrumar casais para sair com você...."

Resolva sentimentos passados
"Não existe: ‘Ah, eu vou dar uma saidinha com meu ex’. Se você vai
sair com seu ex, é para namorar. Manutenção mensal não leva a
lugar nenhum..."
Tenha outros objetivos a não ser arrumar alguém
"Quem quer alguém e não tá arrumando ninguém, o que cair na rede é peixe".
Não saia atirando para todo os lados
Pense que ninguém é responsável pela sua felicidade"Quem não é feliz consigo não vai ser feliz com ninguém..."

Busque o equilíbrio
"... Se você é muito pra frente, os outros vão dizer: ‘Esse aí não tem relacionamento sólido’" 

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