domingo, 17 de março de 2013

Como a ciência enxerga as experiências de quase morte?


Há diversos relatos sobre as chamadas experiências de quase morte, ou seja, pessoas que passaram por alguma dificuldade e acabaram perdendo sinais vitais ou até mesmo entrando em coma. Ao retornarem desse estado, elas relatam a visão de túneis de luz, experiências fora do corpo e outras sensações estranhas.

Por mais místicas que as experiências de quase morte possam parecer, elas também são alvo de estudo da ciência, que se preocupa em encontrar uma explicação para esses fenômenos. Há pelo menos dois pesquisadores que se dedicam a tentar entender essas experiências: o Dr. Sam Parnia, autor do livro “The Science That Is Rewiring the Boundaries Between Life and Death”, e o Dr. Kevin Nelson, que escreveu “The Spiritual Doorway in the Brain”.

Entre eles, Parnia e Kelvin discordam da abordagem técnica para solucionar a questão, mas mesmo assim foram capazes de fornecer à revista Popular Science algumas das possíveis causas que levariam aos sintomas mais relatados.

Perda do fluxo sanguíneo

“Uma das causas mais comuns de experiências de quase morte é o desmaio”, afirma o Dr. Kevin Nelson. Isso faz com que desmaiar seja um ótimo exemplo de como esse tipo de fenômeno pode acontecer com pessoas que estão longe de estarem mortas.

Os pesquisadores afirmam que a perda do fluxo de oxigênio pelo olho poderia causar uma visão tunelizada, ou seja, que não tivesse percepção periférica. Além disso, a falta de oxigênio e até mesmo a sensação de medo podem fazer com que o gás pare de circular em nosso corpo. E como tanto a visão em forma de túnel quanto a falta de oxigênio são sintomas da morte, um simples desmaio já seria o suficiente para causar muitos dos efeitos que algumas testemunhas dizem ter experimentado.

Efeitos químicos do corpo

Uma grande quantidade de esteroides, adrenalina e epinefrina são liberados no corpo durante momentos de quase morte, de acordo com o Dr. Parnia. Isso pode ajudar a explicar a sensação de euforia e alguns efeitos mais estranhos, como alucinações. Existe a hipótese de que a cetamina, substância liberada quando os animais estão sendo atacados, também poderia produzir efeitos semelhantes.


Os químicos podem, muito bem, ser uma das causas para as experiências de quase morte. Entretanto, isso não pode ser facilmente comprovado, como no caso dos desmaios e perda de sangue.

É uma forma de sono REM

A fase REM do sono é a que está mais comumente associada aos sonhos. O Dr. Nelson sugere que, ao estar quase morta, a pessoa entra em fase REM. Em outras palavras, nosso cérebro ainda está funcionando o suficiente para entender que está em perigo, apesar de estar sonolento.

Isso acaba criando uma espécie de sonho lúcido, situação em que nos encontramos conscientes, mas não totalmente. Muitos também relatam a experiência de ter saído do próprio corpo e, segundo Dr. Nelson, essa condição é totalmente consistente com os tais sonhos lúcidos.

O caso do filme da vida diante dos olhos

Outro relato muito comum é o de pessoas que, ao chegar perto da morte, relataram as lembranças do passado. Pesquisas já demonstraram que a nossa memória é ativada em momentos de muito perigo, como é o caso das experiências de quase morte.

A ativação da memória de longo termo e da reação de lutar ou correr, que estão relacionadas em nossos cérebros graças à evolução do órgão, pode ser parte da explicação sobre as lembranças tão vívidas que as pessoas possuem durante as experiências de quase morte. Quando isso acontece, ela pode ver o “filme da vida” passando diante dos olhos.

Por enquanto, ainda não se sabe ao certo quais são os efeitos desse tipo de experiência, mas boa parte dos aspectos relacionados à sensação de quase morte já foi reproduzida em laboratório e tiveram algumas causas associadas a eles. Por enquanto, a única certeza que temos é a de que quase morrer acaba marcando bastante quem passa pelo fenômeno, mesmo que a pessoa acredite apenas na ciência.


A experiência de quase morte (Globoreporter)

Luz no fim do túnel: saída ou porta de entrada para uma outra vida? As visões de quem esteve à beira da morte são impressionantes. A empresária Marisa Cruz Brillinger e o advogado Solon Michalski não esperam que alguém acredite no que eles viram do outro lado. Mas estão convencidos de que voltaram diferentes. "Eu tive a tal viagem que é muito conhecida: a viagem pelo túnel. A descrição é comum", conta Solon.

Naquela manhã, algo dizia que Marisa tinha de pedalar no Parque Ibirapuera, em São Paulo. E veio o inesperado. "Eu andei menos de 500 metros e tive uma dor alucinante no lado direito da minha cabeça. Eu me lembro da viatura, mas não do Fernando. Eu fiquei sabendo dele através de uma amiga minha", diz a empresária.

No meio de milhares de pessoas, o cabeleireiro Fernando Calçolari prestou atenção na desconhecida. "Pela expressão, eu vi que ela não estava bem. Fui avisar a viatura e quando eu voltei, ela já estava sentada na calçada. Neste momento, ela foi para a cadeira e ficou deitada. Nisso a viatura já estava se aproximando", lembra.

Marisa foi levada a um hospital. Tinha sofrido um derrame. No quarto, sua última lembrança é de uma moça oferecendo um copo d'água. "Eu tomei a água e vomitei. E saí por essa água. Não era um túnel, não era um funil – era água", descreve.

Desacordada, em coma, numa UTI. E, ao mesmo tempo, partindo para uma viagem surpreendente. "Cheguei num lugar cinza. O ar era pesado, parecia que tinha uma névoa. E tinha um homem muito grande, um guerreiro. Aí, comecei a falar com ele. Pedi perdão ao general. Mas ele não me olhava", conta Marisa.

A empresária diz ter regredido a uma outra vida, por causa de algo ruim que fez no passado. "Eu não era leal. Articulei batalhas para ele, mas eu articulei matá-lo. E a morte foi a punhaladas", acredita. Tudo teria acontecido há 4 mil anos.

"Eu sempre digo que basta olharmos no espelho, todos os dias, para sabermos o que fizemos de bom e de ruim. Ninguém precisa acusar", comenta Marisa.

O mais incrível é que depois de tanto sofrimento, ela não teve o perdão que esperava. Assim mesmo, acha que não perdeu a viagem. "Eu acredito que ele teve esta oportunidade para evoluir, mas ele não quis. É livre arbítrio dele. Mas o grande ensinamento que me passaram foi: não faça para não ter que pedir perdão".

Marisa voltou do coma cheia de histórias. E, para a surpresa dos médicos, sem nenhuma seqüela do derrame. "Quando eu cheguei no quarto para conversar, ela se encontrava sentada no sofá, e o marido estava sentado na cama. Foi uma surpresa – ela estava arrumada e bonita. E isso me surpreendeu", diz o cardiologista Rodrigo César Bazzo.

A empresária quis saber quem era o desconhecido que a salvou no parque. E ganhou um amigo. "Eu acho que a vida é isso: as pessoas passam, e a gente tem que prestar atenção", constata Marisa.

A chamada experiência de quase morte tem se tornado mais comum à medida em que a medicina avança. Técnicas de ressuscitação do coração e dos pulmões permitem o socorro de pacientes que, há algumas décadas, dificilmente, voltariam à vida.

Médicos que trabalham em UTIs ouvem histórias ricas em detalhes. Relatos de pessoas que não admitem a possibilidade de terem tido alucinações.

"Elas falam que isso foi a coisa mais real que já viveram na vida. E é isso que diferencia de uma experiência conduzida por uso de drogas, seja abusivo ou terapêutico", ressalta o neurocirurgião Paulo Porto de Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Quem passa por essa experiência conta que, em algum momento da viagem, se vê diante de um filme, com um roteiro bem familiar. Um resumo da própria vida projetado numa tela imaginária. Cenas do que foi feito de bom e de ruim até aquele instante. O filme traz, em si mesmo, uma revelação: ainda não está pronto. E voltar à vida é a chance de escolher o melhor final para essa história.

"As pessoas se voltam um pouco mais para a família, para ações que possam produzir o bem comum e que tenham um efeito social mais significativo", diz Paulo Porto de Mello.

Hoje, um tranqüilo Solon brinca com o filho Frederico. Mas nem sempre foi assim. Ele já foi um jovem briguento, turrão. "Havia uma revolta muito grande dentro de mim, muitas coisas que eu não entendia. E a partir de 1969 eu passei a entender a vida de uma outra forma", diz ele.

Em 1969, a vida de Solon esteve por um fio. Ele quase morreu num acidente de carro. E, em coma, percebeu algo que todos os seus sentidos, juntos, ainda não haviam mostrado a ele: a sua vida era marcada pela agressividade. Cenas que Solon nunca esqueceria.

"Passou o filmezinho da minha vida. E passaram coisas que eu não imaginava que fossem vergonhosas. Naquele momento eu senti uma extrema vergonha de ver como eu era horrível", conta Solon.

A experiência foi transformadora. E o rapaz revoltado já era outra pessoa. Para orgulho do pai, seu Damon Michalski. "Depois que viveu essa experiência, ele baixou a bola, como dizem. Ele passou a ser gente, a se interessar pelas pessoas", avalia.

"Acho que foi uma colher de chá que eu ganhei", conclui Solon.m
(Globoreporter)

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