sábado, 16 de março de 2013

Texto egípcio de 1,2 mil anos descreve um Jesus “mutante”

Um texto egípcio antigo, com mais de 1,2 mil anos, conta uma versão diferente de alguns fatos narrados pela Bíblia, e apresenta Jesus como alguém com capacidade de mudar de aparência, um mutante.

No texto, que só foi decifrado há pouco tempo, Jesus teria celebrado a Santa Ceia com a presença de Pôncio Pilatos, o governante que lavou as mãos e permitiu sua crucificação. Outro dado curioso do texto é que ele assegura que a celebração teria ocorrido na terça-feira, e não na quinta, como diz a tradição.

O pesquisador Roelof van den Broek, que publicou a tradução do texto no livro Pseudo-Cyril of Jerusalem on the Life and the Passion of Christ (em tradução livre, Pseudo Cirilo de Jerusalém sobre a Vida e a Paixão de Cristo) diz ser importante frisar que este relato não pode garantir que os fatos são exatamente estes, embora demonstre que existiram pessoas que acreditavam que essa era a versão correta.

De acordo com o LiveScience, atualmente, sabe-se da existência de duas cópias do mesmo texto, que foi escrito na linguagem copta, que era usada pelo povo egípcio durante o período helenístico e no tempo sob dominação romana. Uma das cópias está na Biblioteca e Museu Morgan em Nova York e a outra no Museu da Universidade da Pensilvânia.

Um trecho do documento relata o encontro secreto de Jesus com Pilatos: “Sem maior tumulto, Pilatos preparou a mesa e comeu com Jesus no quinto dia da semana. E Jesus abençoou Pilatos e toda a sua casa […] (depois, Pilatos disse a Jesus) bem, observe, a noite chegou, levante-se e bata em retirada, e quando a manhã chegar e eles me acusarem por sua causa, eu devo dar a eles o único filho que tenho para que eles possam matá-lo em seu lugar”.

O texto complementa afirmando que Jesus teria agradecido a Pilatos por sua boa vontade, mas recusado a oferta mostrando que teria outros meios para fugir da perseguição dos soldados.

O pesquisador que publicou o livro sobre o tema diz que na Igreja Copta e em outras igrejas da Etiópia, Pilatos é tido como um santo, o que explicaria a forma mais simpática com que ele é descrito nesse texto.

Sobre a mudança de características de Jesus, o texto egípcio diz que as pessoas o viam de formas diferentes: “Então os judeus disseram a Judas: como vamos prendê-lo (Jesus), pois ele não tem uma única forma, sua aparência muda. Às vezes ele é corado, às vezes ele é branco, às vezes ele é vermelho, às vezes ele tem cor de trigo, às vezes ele é pálido como um asceta, às vezes ele é um jovem, às vezes um velho…”. O pesquisador diz que essa descrição corrobora o conceito de que o beijo dado por Judas na face de Jesus teria sido uma forma de mostrar aos soldados quem era o alvo.

“Essa explicação do beijo de Judas foi encontrada primeiro em Orígenes [um teólogo que viveu de 185 a 254]“, explica o pesquisador, que menciona ainda que Orígenes registrou em uma de suas obras que “para aqueles que o viam, [Jesus] não aparecia da mesma forma para todos”.

O pesquisador Van den Broek ressalta ainda que “no Egito, a Bíblia já havia se tornado canônica no quarto/quinto século, mas histórias apócrifas e livros permaneceram populares entre cristão egípcios, especialmente entre monges”, o que daria margem às diversas versões da história. [Por Tiago Chagas, para o Gospel+]


Café com Pilatos

“Sem maior tumulto, Pilatos preparou a mesa e comeu com Jesus no quinto dia da semana. E Jesus abençoou Pilatos e toda a sua casa (…) [depois, Pilatos disse a Jesus] bem, observe, a noite chegou, levante-se e bata em retirada, e quando a manhã chegar e eles me acusarem por sua causa, eu devo dar a eles o único filho que tenho para que eles possam matá-lo em seu lugar”.
De acordo com o texto, Jesus teria agradecido a Pilatos por sua boa vontade, mas recusado a oferta e mostrado que, se desejasse, poderia escapar de outras formas, desaparecendo em seguida.
Van den Broek lembra que, na Igreja Copta e em igrejas da Etiópia, Pilatos é considerado um santo, e isso explicaria o retrato mais amigável que ele recebeu nesse e em outros textos.

Jesus metamorfo

“Então os judeus disseram a Judas: como vamos prendê-lo [Jesus], pois ele não tem uma única forma, sua aparência muda. Às vezes ele é corado, às vezes ele é branco, às vezes ele é vermelho, às vezes ele tem cor de trigo, às vezes ele é pálido como um asceta, às vezes ele é um jovem, às vezes um velho…”
Se Jesus era capaz de mudar radicalmente de aparência, uma simples descrição física não bastaria para que os guardas romanos o identificassem, o que teria motivado Judas a escolher um sinal (um beijo no rosto, de acordo com os Evangelhos Canônicos).
Embora muitos leitores possam ter achado a ideia curiosa, ela é ainda mais antiga do que o texto egípcio. “Essa explicação do beijo de Judas foi encontrada primeiro em Orígenes [um teólogo que viveu de 185 a 254]“, explica o pesquisador. Na obra Contra Celsum, Orígenes escreveu que “para aqueles que o viam, [Jesus] não aparecia da mesma forma para todos”.

(Tipo) São Cirilo

O autor do texto assina como São Cirilo de Jerusalém, um santo que viveu no Século 4 – da mesma forma que ocorre com diversos outros textos antigos, segundo van den Broek. Além disso, o autor alega que teria encontrado em Jerusalém (atualmente no território de Israel) um livro com relatos feitos pelos apóstolos sobre a vida e a morte de Jesus.
Van den Broek considera que essa alegação seria um recurso para “aumentar a credibilidade das visões peculiares e dos fatos não canônicos que ele vai apresentar, atribuindo-os a uma fonte apostólica”, estratégia que seria encontrada “frequentemente” na literatura copta.
Outro aspecto intrigante do texto é o fato de ele apontar que a “Última Ceia” teria ocorrido com Pilatos e, além disso, em um dia da semana diferente do que é celebrado há quase dois mil anos. “[...] É fora do comum que Pseudo-Cirilo relate a história da prisão de Jesus na noite de terça-feira, como se a história canônica de sua prisão na noite de quinta não existisse”, diz van den Broek.
Van den Broek explicou que “no Egito, a Bíblia já havia se tornado canônica no quarto/quinto século, mas histórias apócrifas e livros permaneceram populares entre cristão egípcios, especialmente entre monges”.[LiveScience]

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